As luzes noturnas se dispersam. Tão facilmente recolhem-se nos reflexos dos vidros. Espelhos confeccionados para espelhar os dias das cidades. Se cada um pudesse registrar os minutos, teríamos um filme infinito sobre a passagem de carros e pedestres. Se ao menos cada um pudesse contar sua história...Mãe? Pai? Estudante? Doutor? De que me importa? De que me importa o mundo neste momento, senão que ele é o único no qual posso respirar? Há algo de um laço tênue, dançando pelo frio, rodopiando pela incerteza, desgarrando-me de meu próprio humor. Que humor um tanto alcoolizado. Despido de convenção. Despido da necessidade da palavra. Deita-se n irregular receptáculo do "apenas ser". Irreal que a alma queira desgarrar-se do corpo, sorver o ar si mesma, empoeirar a angústia no grande vazio no qual os erros e angústias são jogadas. Abismo do meu medo. Temendo que o negro se encante por meu espírito. Inúmeras marcas que...
Vivo esperando que algo mágico aconteça. Não sei ao certo o que é, só sei que espero que isso venha. À mercê de um mundo tão nu e cruel, parece sempre faltar algo dentro do nosso peito, algo que não seja feito de concreto, armas ou rotinas; mas sim, algo feito de divindade, liberdade e amor. Deito para dormir todos os dias, na esperança de que o amanhã será diferente, muito mais do que já foi até o hoje, na esperança de que ele trará algo excitantemente novo para esta reles vida mortal. Assim sendo, fecho os olhos e sonho coisas aleatórias e estranhas, mas que fazem sentido para mim. Alguém muito sábio disse que os sonhos são o espelho da alma. E é exatamente por isso que devemos atentar para as coisas pequenas da vida. Para o nascer do sol, para o brilho da estrelas, para o riso de um bebê e o farfalhar das folhas de uma árvore. São nessas coisas que nossas almas devem se refletir, mostrar-se. Precisamos saber e sentir que, além de toda conf...
Eu me rendo. Assim, de repente e simplesmente, me rendo. Mas não é só mais uma rendição. Não é só mais uma expressão desprovida de qualquer sinceridade. É a mais nova e tão veemente honesta redenção. Grave bem as minhas palavras, porque elas só sairão uma vez e depois correram o mundo, conservando toda força disponível para quebrar tanta discórdia infundada. Afinal, quem foi que me disse que, ao chegar aqui, tudo já estaria providenciado para minha felicidade? Quem me prometeu que não haveria dor? Que não haveria mentira? Que não haveria abuso? Que não haveria horror? Os sonhos que sonho são apenas isso: sonhos, um habitat imortal, um habitat irreal. A realidade que entorno, essa sim, é meu habitat mortal, meu habitat real. E há realidades tão mais penosas que essa pobre que me acompanha. Então, batendo os olhos na escuridão que se alastra pelo mundo, eu digo: eu me rendo. Mas não é à escuridão que me rendo: é à verdade. E...
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