Navalhas
As palavras violentaram o silêncio. No alento de um dia ensolarado, nenhum dos dois sabia qual a extensão daquilo que falavam, mas certamente sabia que haveria um fim em algum ponto. As respirações eram falhas. Os olhos caídos e embargados de lágrimas. Os gestos eram ora lentos ora bruscos. E os pensamentos vertiginando envolta de dias que não voltam mais. Era como uma tempestade há muito prevista, entrando sem pedir licença; entrando como se já fosse de casa. E de fato era. O brilho enfurecido dos olhos eram os relâmpagos, que chegavam antes do estrondo das palavras. Palavras amargas. Palavras acusadoras. Palavras abusadoras. E cortantes. Cortantes como o ar gelado que faz a pele arrepiar-se até doer como um ferimento. As palavras atravessavam o ar, fazendo-o recuar, ocupando seu espaço, e chegando aos ouvidos que as martelavam até o coração. E elas cortavam. Cortavam. Torturavam. E doíam. Ambos descobriram a navalh