Fim

      Era uma vez, uma garota e um garoto, que só obedeciam às ordens do "está destinado a ser". Sem regras prévias, ou grandes, ou pequenas preocupações. Só havia eles, e a inocência de um puro e raro, muito raro, sentimento.
     Mas o "está destinado a ser" sempre será o que está destinado a ser, e nada que se ache no caminho pode ser evitado. Tentar evitar o que está por vir é justamente o que te leva a esse futuro.
    E agora, a garota já mulher, em um lindo dia de quase inverno, o menos frio de todos os tempos. Lindo, mas triste. Para ser lindo, não precisa ser feliz. É como um livro que só é uma obra prima porque o final é trágico. Triste, mas lindo.
    Haviam árvores rindo das piadas da calma brisa, um céu azul monótono e aquela mulher em um caminho movimentado que, para ela, era o nada.
    Um caminho que terminava em um inevitável fim.
    O fim do "à dois" e do "para sempre" também.
    E ela ainda estava se lembrando do caminho que havia acabado de terminar.
    Ela lembrava as cantadas indiretas dele, os sorrisos charmosos e a vontade estupenda de estar ao seu lado. Haviam as coleções de adesivos que ele dava a ela de presente, e os beijos de agradecimento que lhe eram concedidos. Os jogos de video-game que ele a deixava vencer só para ganhar um prazeroso sorriso. E um balanço no parquinho da rua, no qual eles embalavam um ao outro. Uma relação de dois adolescentes donos do mundo. Quase um conto de fadas. Quase.
   Porque o que vem antes do "fim" dos contos de fada era "e eles viveram felizes para sempre".
   Isso não se aplicava a eles. Poderiam até viver felizes para sempre algum dia, mas não juntos. O conto de fadas deles havia acabado onde a bruxa confronta os mocinhos. E a bruxa havia vencido.
   Todo o amor incondicional, beijos e promessas não conseguiriam superar o que havia colocado um fim àquele conto.
   Só podiam no hoje, limitar-se à alegria de que foi bom enquanto durou.
   E agora, tudo que havia eram as feridas e a esperança de que a vida acharia o seu lugar. Pois, afinal, a vida segue em frente. E quem poderia dizer que a garota já mulher e o garoto já homem não achariam outro amor incondicional? Não começariam outro conto?
   Seria outro "era uma vez", mas dessa vez, com um final de felizes para sempre.
   Porque não havia acontecido para eles juntos.
   O seu "era uma vez" agora era "foi uma vez".
   E nunca mais seria de novo.
   Nunca mais.

Comentários

  1. Estive visitando teu Blog.Lindos textos. È a vida continua e nós com ela e novas oportunidades para aportar." Mutações um novo passo de dança e asas para voar.Abraços Eloah

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