Conversas com Deus


            Cá estou eu. Com pés firmes no chão, ansiosos para peregrinar até o centro. Já tem algum tempo que um estranho suspiro reina em mim. Minha respiração caminha a passos rápidos, sem fim. Caminhará até quanto tempo? Esforço-me por um respirar lento, que cante as melodias junto ao suspiro.

            Suspiro profundo. Não de melancolia. Não de derrota. Suspiro de infinito. De algo que não tem começo nem fim. Só suspira, encantadoramente, seduz minha respiração, seduz meu pensamento, vibra em cada molécula entre o céu e a terra.

            Cada passo parece fazer o chão tremer, cada passo ganha mais força, cada passo tem a fibra incansável de um exército. Então, se eu sou um exército inteiro, quantos exércitos não estremecem o chão com seus passos? Quantos exércitos não lutam sem fim? Quanto ar não circula sem processamento? Sem paz, só batalhas, até milhões de exércitos darem um último suspiro.

            É isso. Últimos suspiros. Batalha vencida e perdida a todo momento. E ainda, resta suspiro de infinito. Eu aqui com meus pés firmes no chão. Eu aqui desacelerando a respiração. Eu aqui tentando o centro alcançar. Mas a respiração se une ao vento, o ar esquece meu peso e eu vôo. Voo até o centro. Voo acima do mar de fúria. Acima da areia movediça. Diluindo luz. Voando, não há tropeço. Voando, tudo é um todo, tudo é um sopro. De vida.

            Sopro. Suspiro. Centro. Incessantemente explode um feitiço lento. Eu aqui, pensando que respirava sozinha e, no final, descobri que andava tendo conversas com Deus.

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